sexta-feira, 15 de abril de 2011


    Pus o meu sonho num navio
    e o navio em cima do mar;
    - depois, abri o mar com as mãos,
    para o meu sonho naufragar.
      Minhas mãos ainda estão molhadas
      do azul das ondas entreabertas,
      e a cor que escorre de meus dedos
      colore as areias desertas.
        O vento vem vindo de longe,
        a noite se curva de frio;
        debaixo da água vai morrendo
        meu sonho, dentro de um navio…
          Chorarei quanto for preciso,
          para fazer com que o mar cresça,
          e o meu navio chegue ao fundo
          e o meu sonho desapareça.
            Depois, tudo estará perfeito:
            praia lisa, águas ordenadas,
            meus olhos secos como pedras
            e as minhas duas mãos quebradas.
            -Cecília Meireles-

          Ha varias interpretações para esse poemas, mas a que eu quero falar é sobre a desilusão de um amor, que achávamos que seria para sempre.
          Depositamos todo o nosso amor no navio de outra pessoa, na espera de que ela nos deixe embarcar e que tudo fique bem
          E por um tempo, realmente acreditamos que tudo dará certo, que o amor realmente nos achou e o mundo ficou mais colorido.
          Nos entregamos tanto a essa pessoa, que mesmos com nossas dúvidas em relação ao futuro, continuamos depositando nossos sonhos, nossos planos e fantasias no navio do outro,e por um bom tempo, o outro aguenta e compartilha de tudo aquilo que demos para ele e temos a sensação de que não estamos sozinhos, de que a nossa outra metade do coração está ali sorrindo pra nós dizendo que jamais vai acabar, pois a relação que construimos é muito forte.
          Mas ai vem as tempestades, as tentações e provações de um mundo que faz de tudo para desmoralizar e banalizar qualquer tipo de sentimento puro e verdadeiro, e por mais que queremos pular do barco, sabemos que temos alguém do nosso lado, que nos ajuda a pilotar o navio e por isso sempre estaremos salvos, seguros, porque temos com quem compartilhar as coisas.
          E tudo vai bem novamente, até olharmos para o lado e vermos que não a ninguém além de nós no navio, que a outra pessoa foi embora e nos deixou sozinho, a deriva, esperando algum tipo de sinal de que estamos enganado, que a pessoa vai voltar,mesmo sabendo que la no fundo ela se foi para sempre.
          É nessa parte que vem a dor, a vontade de chorar e de odiar aquela pessoa, mesmo sabendo que jamais vamos poder odiar alguém que simplesmente ainda vive dentro de nós.
          Cada um tem uma maneira de lidar com a dor, mas de uma forma ou outra, seremos obrigado a seguir adiante,e enterrar ( ou esconder) esse sentimento, la no fundo, de nós mesmos, na esperança de que algum dia a ferida esteja cicatrizada o suficiente para podermos confiar nosso coração a alguém novamente.
          Esse processo nunca é rápido, ou fácil, e envolve coisa que não podemos ter de volta,envolve uma parte de nós que perdemos e o pior e ver a outra pessoa feliz, como se tudo que vivemos não passou de uma tarde agradável, como se não existisse nada mais que uma simples lembrança.
          As vezes não sabemos o quanto foi difícil para o outro dar um fim, porque ficamos sempre focados na nossa dor, e talvez deixamos de ver que a felicidade que o outro tem nada mais é do que uma mascara para esconder a tristeza, ou um muro para nos impedir de ver quem a pessoas realmente é, mas isso, acho que nunca teremos certeza.
          O fato é que ainda doi, acho que o processo que mais doi, é cavar o buraco para poder enterrar as lembranças, porque de certa forma, estaremos revivendo tudo de novo.
          Mas amar é isso ; Assumir riscos, para quem sabe acertar, as vezes e na maioria das tentativas erramos e temos a impressão de que só há tempestades em nossas vidas e que tudo não passa apenas de um borrão em um dia escuro.
          Mas a vida não é assim, mesmo que nosso coração seja posto em prova, e nós sejamos marcados da forma mais dolorosa possível, há sempre o amanhã, e ele sempre vai brilhar para quem conseguir ver além das tempestades, dos raios trovões, e não olhar para aquele profundo buraco que se fez em nosso coração e que nos impede de se entregar novamente com medo de que ele fique cada vez maior a ponto de nos engolir por completo.
          Não se preocupe, a vida se encarrega de fecha-lo, de fazer parar de sangrar, de nos dar uma razão de continuar acreditando que vamos achar alguém que seja capaz de dividir o comando do navio conosco e que não nos deixe a deriva.
          "Just Keep Beliving.Do not Give Up*"





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